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REFLEXÃO DE UM ABIÃ

São textos criados como reflexão sobre o ser humano e seus mitos. Com um olhar peculiar de quem vem procurando caminhos e explicações sobre a existência através da diversidade. Difundir esses textos via rede, foi um apelo de alguns amigos que acatei com muito cariinho, e me servira como laboratório para projetos maiores, portanto espero que gostem, façam seus comentários, indique a outros amigos ampliando a rede para que os textos ajudem de alguma forma aqueles que como eu, procura ler e reler caminhos trilhados.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Gerge Samuel Antoine o Diplomata da Intolerância

Atribuir ao comentário do cônsul do Haiti no Brasil o senhor Gerge Samuel Antoine, a um problema de falta de domínio da língua, como ele e assessores justificaram o episódio sobre seu comentário flagrado pelas câmeras da equipe de jornalismo do SBT, traduz como pessoas dessa natureza subestimam a capacidade de discernimento da humanidade. É querer esconder seu preconceito dentro da cueca em rede nacional, a emenda do senhor Cônsul ficou pior que o soneto. Que o dito expressa o que mais se repudia com que se refere a preconceito, racismo e tudo contra que lutamos isso é fato. E bem avaliado a diversos amigos em seus comentários NO CORREIO NAGO no blog (pagina) de Paulo Rogério, quando exibe o catártico depoimento. Há na declaração do referido representante oficial do Haiti em nosso país, uma menção de que a: “tragédia ser oportuna para seus interesses pessoais”. Permita-me Senhor Cônsul o plagio que farei, para nós oportuno foi o trágico depoimento, o terremoto que causou nas estrutura que roem a cada dia de uma moral burguesa e racista. Através dessa catástrofe oral nos serve para de fato avaliarmos como essas questões ecoam em cada brasileiro, brancos e negros. O principio do racismo segundo Jean Paul Sartre, se da quando um determinado grupo ou pessoa procura difundir, justificar, apontar o outro como inferior. À medida que uma pessoa se posiciona como superior a outra (seja negro, mulher, judeu, homossexual, seja qual for às diversidades étnicas e culturais) faz a sua própria condição mesmo que ilusória como superior, ou melhor, essa visão da à falsa impressão em sua satisfação psicologia, como um ser melhor. Desculpe-me amigos pelo resumo grotesco da teoria do existencialista, mas torna-se cabível, isso independe se de fato é menor ou maior, sendo que essa analise fica a mercê da ótica de quem avalia ai se tratando de uma classe “dominante” que tem na sua estrutura psicossocial que vive ainda uma cultura de Casa Grande. E no caso dos neo pentecostais assim como esses grupos que partilham da mesma inclemência e necessitam de esconder suas fraquezas demonizando os outros. Nesse caso volto à máxima de Sartre “nossos infernos são os outros”.

Como a Tragédia do Haiti serviu para vir a publico, o como aquele País dentro de uma desestrutura social e política desumana, esse diplomata da intolerância nos serve para refletirmos sobre quais os avanços e atraso de nossas estruturas democráticas e pluralistas. Isso nos faz lembrar como Marco Frenete sita em seu livro Preto e Branco a importância da cor da pele, aponta o que “ aconteceu na Alemanha pós guerra, onde reportes do mundo todo momentos depois do final, queriam entrevistar famílias nazistas para saber como ficaram ao término da guerra, esses jornalista ficaram pasmos, não encontraram uma família Nazista se quer. Esse fenômeno é conhecido em psiquiatria como Unterdrückung quer dizer “forçar para baixo” empurrar para debaixo do tapete a vergonha da nação.”Assim é tratado a questão racial no país, onde a maioria é composta de negros e pardos e são tratados como minorias, com sérios problemas de inclusão social . Nosso Cônsul da Intolerância levantou o tapete, cabe a nós, avaliarmos o panorama escancarado que esse diplomata nos propiciou. A indignação existe em cada negro, que não precisa de muita idade pra trazer em sua experiência pessoal, um tipo de discriminação, traduzir esses episódios individuais em reflexão política, os movimentos negros se empenham dia a dia, para esses avanços, hoje se sabe que em âmbito nacional, as religiões de matrizes africanas (umbanda, candomblé e etc..) já não são representadas somente por negros, essa pluralidade étnica é positiva e deve fortalecer essas religiões, nem sempre vemos isso acontecendo, o que vemos Babalorixás e Yalorixás em nome da unidade criar ações individuais com intuito único de fortalecer suas imagens, uma manifestação do ego pessoal. E quanto à população negra, até que ponto na sua maioria esta voltada a sua ancestralidade africana, ou não recorreu a um facilitador moderno a aderirem ao Gospel oriundo de negros da America do Norte? Independente do que as estatísticas apontem temos que nos unirmos por um país justo, laico que somos com direitos reservados pela nossa constituição. Sermos mais ostensivos em nossas manifestações culturais, mostrar cada vez mais o sorriso negro, sair com seus fios de contas, participar de organizações sociais, em busca da melhor qualidade de vida, e sempre gritar por seus direitos. Quiçá um dia não precisemos de Diplomatas da Intolerância que levantem tapetes porque não haverá sujeira de qualquer natureza e aqueles que representam seja de fato, uma tragédia do passado representado apenas nos livros de história. E que nossas caminhadas contra a intolerância, sejam caminhadas de milhares de pessoas pela celebração da vida e diversidade.
SÉRGIO CUMINO

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ABIÃ EM BUSCA DO SANTO GRAAL


Quando vemos as coisas através dos mitos e arquétipos transcendemos. E não pode recorrer num erro que o sincretismo nos enfiou goela abaixo de submeter cultos afro-brasileiros e demais religiões animistas sob a tutela moral do cristianismo, e procurar sempre similaridades muitas vezes onde se vê disparidades concordo com Joseph Campbell quando afirma que o grande equívoco do cristianismo e entender a Bíblia como uma história real e não como Mito. O importante é sabermos que o mito é algo vivo dentro de nós e é o que forma e liberta nossa própria estrutura psicológica.
O Abiã no candomblé é o que comete as Gafes, com o direito adquirido de perpetrar mas não deixa de ser um alienado e existencialmente solitário. É um pobre que realmente pouco sabe sobre um ritual que esta se iniciando, mas sente que é de uma complexidade fascinante, por conta disso faço o paralelo com o Mito do Santo Graal (já que o combinado é olharmos pela ótica dos mitos), contudo quando decidi pelo Candomblé, já vinha de um questionamento profundo,passando pelo materialismo ateu a esquerda festiva, me entreguei às artes cênicas mas o Orixá sabe como encaminhar seu filho e assim a transição de universo e visão de mundo foi ,como o modernista Osvald de Andrade disse: “temos que mergulhar num profundo ateísmo para atingirmos a verdadeira imagem de Deus” esse é o meu processo,fez do meu ceticismo instrumento para definir meu caminho e consciente da longa jornada e peregrinação que iniciei para construir uma base sólida para melhor servir meu orixá, no meu primeiro contato com Pai Toninho de Xangô ele após de proferir o jogo de búzios fez seguinte comentário “é lamentável que você tem um potencial grande porém está, doente espiritualmente” essa afirmação do babalorixá me arremeteu ao mito onde O Castelo de Graal que passa por problemas porque o seu rei está ferido, por se queimar com um salmão que assava num espeto, e com as feridas de Fisher King (o Rei) que não se cicatrizam o faz sofrer justamente pela sua incapacidade de tocar as coisas boas, a felicidade que tem ao seu alcance, esta incapaz de tocar o cálice sagrado O Graal, e anunciou-se que sua cura dependia do bobo da corte,um tolo, de nome Parsifal.
As feridas em mim representam os percalços que a vida me apresentou e que hoje percebo que são responsáveis por estar aqui escrevendo essa coluna, o que considero um orgulho, fruto do que pedi em minhas orações ao meu Orisá, a minha cabeça,que me desse, sabedoria, e com a força de um raio, lançou-me a escola da vida, onde aprendi que amor é dor e que viver é morrer,e que vivemos todo momento para renascermos novamente .Aí esta o paralelo que faço com o mito do Santo Graal, onde me usufruo de toda a simbologia que há em cima do Abiã do candomblé e tempero com o lado ingênuo do Parsifal, que precisa integrar a vida do rei para que se de sua cura; o que segundo Robert A. Johnson “Freqüentemente é aquele algo ingênuo e tolo num homem que começa por cura-lo; e ele precisa aceitar a idéia , precisa ser humilde o suficiente e encarar o seu lado jovem ingênuo , adolescente, e tolo, e então começar a cicatrizar a ferida do Fisher King.”o que vemos até numa citação bíblica: “Se um homem não se tornar criança outra vez, não entrará no reino dos Céus” .
Abiã é a criança que quando repreendida por algum erro, Censor balança a cabeça e com o olhar de autoridade e por vezes generosidade, é fato que seja qual for sua colocação dentro da Casa de Candomblé (ao menos que depare com outro Abiã), ele com certeza exerce uma posição Hierárquica acima do iniciante. Bom com certeza, esse Abiã que vos escreve, está “chovendo no molhado” para uma boa parte dos leitores,mas vale posicionar esse ser de cara tímida dentro dos Ilê’s .Porque essa coluna procura mostrar forma de um iniciado ler ou procurar entender dentro de sua visão de mundo, o universo estético ritualístico, e filosófico que o reino dos Orixás representam a todos nós, e curar a minha ferida para morrer, e renascer como uma Fênix junto com meu orisá . AXÉ!
Sérgio Cumino

ABIÃ - UM EMBRIÃO COM A PALAVRA

Temos pouca literatura sobre o Candomblé no Brasil, pelo menos no não montante que deveríamos ter, mas já encontramos uma trilha literária séria,quase séria, surrealista e até preconceituosa como o desserviço que é o Livro do Edir Macedo sucesso em vendas “Orixás Deuses ou Demônios”. Bom o objetivo dessa coluna é ser providencial com um olhar diferenciado dos demais é paradoxal por tratar questões ritualísticas e profundas por aquele que pouco ou nada sabe sobre o ritual, mas nele se encontra. A idéia de criar uma coluna justamente por um aprendiz, vem ao encontro de elucidar por a luz duvidas reflexões e conexões a partir de uma visão virgem do candomblé e a certeza que muitas questões atinge todas as castas não tão inocentes assim , afinal uma coluna cuja assinatura é de um tipo Parsifal “tolo ingênuo” enveredando pelos cultos afros brasileiros, e através dessas duvidas alçadas construa-se caminhos, quiçá, contribuições. Quando questionamos as especificidades literárias de fato são limitadas, mas ao meu ver pela própria estrutura do Candomblé vale citar quando Roger Bastide assim como Pierre Catumbi Verger que se dispuseram a criar uma literatura aprofundada ou melhor mais vertical que a que produziram e deixaram a nota que mais que tenham sido iniciados, dando obrigações e hoje considerados verdadeiros ícones,concluíram que o segredo, os mistérios e ritual devem ficar onde de direito estão dentro do ronco entre as paredes do Ile, quem se inicia passa a entender melhor esse posicionamento.
É sabido, que o candomblé é uma religião em movimento, em transformação, que passa por questões que variam desde a psicologia , sociologia, cultura,sincretismo, africanização,miscigenação e etc.. E que a cada casa há uma interpretação desses fatores muito pessoal e por vezes divergente de acordo com o conhecimento ou ignorância ancorados nos valores do responsável ou zelador, o que torna distante a realidade de ter uma doutrina filosoficamente coesa, quando nos referimos a cultos afro-brasileiros, e o que é pior o que muito se vê, são pessoas ligadas ao “povo do santo” que olha a religião como sombra dos cultos Judaico-cristãos, adaptar uma moral monoteísta, a religiões inteiramente ritualista e animista. Esse tema merece um tratamento mais extenso e profundo,o citei para apontar a triagem que procurei fazer e encontrar um caminho em que posso abordar o tema dentro de uma ótica que possa interessar as pessoas ou até mesmo confortar algumas também iniciantes. Venho pensando nessa questão quando o Pai Toninho me fez esse convite para escrever a referida coluna, no momento contestei dizendo que me faltava muito, o que é fato, para inserir um texto sobre Candomblé,já imaginando olhares críticos recheados de desdém egocêntricos da cadeia hierárquica do candomblé,portanto intuía nesse convite,e intuição no ritual é coisa que não podemos desprezar, uma forma como diria na psicologia Junguiana de encontrar a minha individuação uma trilha para alcançar o Santo Graal ou melhor aguçar minha percepção para construção do meu axé. Escolhi um caminho que pouco se fala e que preserva a singularidade e ao mesmo tempo universaliza que é entendermos o candomblé ou melhor nós mesmos através da mitologia universal, essa visão me tocou a primeira vez quando vi uma entrevista com o Cantor e compositor e Ogã Gilberto Gil, quando ele relaciona o candomblé como uma força mitológica tão importante quanto à mitologia Grega, o fascinante é descobrir que tudo que cultuamos encontramos nos Mitos do mundo inteiro, e que partilhamos de arquétipos afins, isso que Jung chama de inconsciente coletivo, portanto essa ótica valorizando o mito, me parece ser mais útil,do que essa visão dualista cristã. Bom x mal , “virtude x pecado”, positivo x negativo, céu x terra, e que Deus está lá no céu junto com seus anjos celestiais e nós aqui esperando o juízo final.

Sérgio Cumino.